Teatro potiguar na pandemia: um ano e meio de teatro mediado por telas.

Por Diogo Spinelli
08/08/2021

Há tempos venho tentando escrever um texto panorâmico para o Farofa Crítica para abordar as experiências online desenvolvidas pelos artistas e coletivos teatrais potiguares durante a pandemia. Contudo, somente nas últimas semanas consegui ter [a disposição e] o tempo necessário[s] para dar início a esse texto que – finalmente – vem à público. Fato é que, depois de praticamente um ano e meio de situação pandêmica ininterrupta em nosso país, dificilmente encontramos alguém que ainda não tenha sentido os efeitos colaterais da exposição prolongada a esse cenário de morte e medo generalizados. Como encontrar energia e estímulo para escrever sobre teatro – e para fazê-lo – sob essas condições?

Nessa perspectiva, tornam-se ainda mais louváveis as experiências realizadas pelos artistas e coletivos teatrais neste período no qual tivemos que expandir a noção de teatro para que ele permanecesse sendo possível. No momento em que alguns grupos potiguares ensaiam um retorno à normalidade pré-pandêmica retomando ensaios ou até mesmo apresentações presenciais – ainda que apenas cerca de 20% da população brasileira esteja com o esquema vacinal completo, e as taxas de transmissão continuem em patamares elevados – acredito ser possível começar a olhar para as experiências teatrais na pandemia com certo distanciamento, mesmo que ainda tenhamos estreias previstas para ocorrer dentro desses formatos pelos próximos meses.

Quando observamos a produção teatral potiguar do último ano e meio é possível identificar não apenas uma grande variedade de formatos utilizados pelos artistas na tentativa de trasladar a experiência teatral para os meios virtuais, mas também um grande número de obras criadas: até onde pude mapear [é necessário assumir que algumas criações podem não ter chegado ao meu conhecimento], foram realizadas 50 obras no estado neste período, entre cenas curtas, espetáculos inéditos, e adaptações de espetáculos pré-existentes aos novos formatos. É preciso demarcar que esse número se refere aos trabalhos que de alguma maneira flertam com a linguagem teatral e/ou foram realizados por artistas desta linguagem, não estando incluídas obras que se relacionam com a linguagem da dança, o que certamente elevaria ainda mais esse montante.    

Trata-se de um número bastante expressivo de novos trabalhos, em especial se compararmos esse número com a produção potiguar dos anos anteriores. Há de se considerar como essencial para esse quadro a destinação de recursos aos artistas através da Lei Aldir Blanc, ainda que parte dessa produção tenha sido realizada de forma independente pelos grupos e artistas, ou através da contratação dos mesmos para projetos de instituições como SESC SP e Itaú Cultural. Ao final deste texto há uma lista com todas as obras do período que consegui mapear, informando se as mesmas foram realizadas com recurso da Lei Aldir Blanc, ou de outras fontes[1].

Uma vez que uma das principais questões com as quais artistas e público de teatro tiveram que se deparar no período, dadas as circunstâncias, foi justamente a readequação de suas criações para novos formatos/linguagens/suportes, daqui em diante centrarei esse panorama nesta problemática. Entre os variados formatos teatrais que surgiram (ou foram ressignificados) durante a pandemia, acredito ser possível fazer uma primeira grande distinção entre aqueles apresentados ao vivo, e aqueles constituídos pela exibição de arquivos pré-gravados. Quando observamos a lista de trabalhos potiguares, podemos verificar que cerca de apenas 1/3 das obras criadas pertencem aos formatos ao vivo, sendo os 2/3 restantes constituídos por obras pré-gravadas exibidas pelo Youtube, ou em sessões fechadas no Zoom. Ainda que não seja possível presumir os motivos que levaram a essa disparidade, há de se considerar a relativa facilidade de exibição de arquivos pré-gravados pelos próprios fazedores e sua posterior disponibilização para espaços de mostras e festivais, se comparada à logística das apresentações realizadas ao vivo, cada uma realizada sob presupostos singulares que demandam um maior engajamento tanto das instituições promotoras de eventos quanto do próprio público.    

Apesar de existirem exemplos de transmissões ao vivo de espetáculos realizados em espaços teatrais, conservando na medida do possível as características originais da obra, como foi o caso de A coisa do humano, da Cia Bagana de Teatro, a grande maioria dos trabalhos apresentados ao vivo foram realizados/transmitidos diretamente das casas dos atores e atrizes envolvidos, através de aplicativos como Zoom ou Instagram, ou retransmitidos destes para o Youtube. Esse movimento de adaptação da linguagem teatral não apenas para as telas, mas para o ambiente doméstico, com suas inúmeras limitações, exigiu dos grupos e artistas uma readequação para encontrar soluções caseiras que pudessem ser equivalentes aos elementos (iluminação, cenografia, figurino...) e aos princípios teatrais (jogo, uso do espaço, plasticidade...) que constituem seus fazeres artísticos.   

Se as adaptações de espetáculos pré-existentes para os espaços doméstico e virtual já demandaram grande engenhosidade por parte dos artistas (como no caso de A ida ao teatro “virtual” e Sal, menino mar, em casa ambos do Grupo Facetas, Mutretas e Outras Histórias, A frasqueira de Jacy, do Grupo Carmin e A casatória c’a defunta online, da Cia Pão Doce, entre outros), ainda mais inventivas foram as propostas inéditas que surgiram no período.

Essas obras buscaram explorar uma outra linguagem híbrida emergente, levando em consideração as potencialidades e as limitações proporcionadas pelo binômio casa-virtualidade desde sua concepção. São trabalhos onde o experimentalismo formal se faz presente desde o título das obras, como é possível denotar em Maurício (uma cena-experimento virtual), do Grupo Interferências e Experimento Decreta, do Facetas, Mutretas e Outras Histórias. Ao serem assistidas pelo público de maneira síncrona, parte dessas obras também explorou os recursos disponíveis nos aplicativos para gerar interatividade como forma de aproximação com os espectadores, como ocorre em Disque Q para Queer, do Teatro da Margem, L.A.A.A.T.I.N.A.: Legião de Aventureiras, Aventureires, e Aventureiros Tenazes e Incansáveis pelas Narrativas ao Avesso, e CLÃ_DESTIN@: uma viagem cênico-cibernética, ambos dos Clowns de Shakespeare. Nesta última, o contexto pandêmico e a exploração da virtualidade serviram de base para a dramaturgia da obra, sendo esse um dos pouco trabalhos potiguares do período a trazer essa discussão para o centro da criação.

Se considerarmos que esses trabalhos foram realizados sem nenhum tipo de contato físico entre seus realizadores, ao observarmos a totalidade dos trabalhos produzidos, podemos estabelecer uma relação na qual quanto mais conservadora foi a postura dos artistas com relação às medidas de distanciamento social, maior teve que ser o grau de experimentação ou de expansão em relação à noção tradicional de teatro em suas obras. Nesse sentido, do ponto de vista formal, podemos dizer que de modo geral as obras pré-gravadas apresentaram um menor grau de experimentalismo se comparadas aos trabalhos apresentados ao vivo, assemelhando-se muitas vezes aos registros audiovisuais de espetáculos tais quais esses eram feitos antes da pandemia, ou diferindo destes, no máximo, pela presença de duas ou mais câmeras, resultando em um arquivo final com edições. Contudo, algumas experiências fogem à regra.

É o caso, por exemplo, de outra versão d’A casatória c’a defunta. Apesar de ser apresentada de forma pré-gravada, a estética do trabalho remete às obras criadas para o Zoom, uma vez que cada ator e atriz do elenco foi filmado em separado e, na edição final, ainda ocupa uma janela distinta na tela. A disposição das diferentes janelas, acrescida de um intrincado jogo de triangulações, garantem a simulação de diálogo entre o elenco. Curiosamente, essa versão em vídeo foi realizada pela Cia Pão Doce antes de sua versão ao vivo para o Zoom, apesar de a estética resultante aludir a essa plataforma. Este mesmo procedimento de gravações individuais em janelas distintas e posterior edição destas gerando diálogo estre as personagens, bem como a estética resultante deste procedimento, também aparecem na obra Pingo d’água em terra seca, do Coletivo Artístico Eskambau.

Por sua vez, algumas outras obras possuem uma maior aproximação com a linguagem audiovisual propriamente dita, explorando, por exemplo, tomadas externas e uma edição mais cinematográfica. É o caso tanto de Elvis tiene la culpa, de Javier Diaz Dallanais quanto de A lenda do namorado e Mulher em (des)montagem, ambas do Grupo Interferências. Se em A lenda do namorado ficam borrados os limites entre curta-metragem, contação de histórias e “teatro virtual”, os três episódios que compõem o projeto Mulher em (des)montagem por sua vez podem ser vistos como uma mescla de desmontagem cênica, palestra-performance, série e documentário audiovisual.

Ainda no campo das obras pré-gravadas, gostaria de mencionar outros dois trabalhos nos quais o encontro das linguagens teatral e audiovisual aparece de maneira bastante intrincada: No coração da lua, do Grupo Estação e Este é um espetáculo autobiográfico mesmo que não sejamos um grupo com tempo suficiente de ter um espetáculo autobiográfico – e, sim, este título está longo demais, do Grupo Asavessa. Cada um à sua maneira, esses trabalhos manipulam os recursos da linguagem audiovisual de modo a favorecer o alto grau de teatralidade que ambas as obras apresentam.   

No infantil No coração da lua, as diferentes tomadas fazem com que, em sua jornada no mundo da imaginação, as personagens de Maria Flor e Paulo Lima encontrem repetidamente o ator Rogério Ferraz instantaneamente caracterizado como um personagem distinto ao anterior. Esse recurso, somado ao rebuscado trabalho de direção de arte desenvolvido por João Marcelino, ao uso de planos inusitados associados a efeitos teatrais concebidos para a câmera (como determinada iluminação ou uso de gelo seco, por exemplo) e a presença de uma animação audiovisual como parte constituinte da obra garantem ao trabalho uma perspectiva bastante particular no que tange a aproximação entre o teatro e o audiovisual.

Já na metalinguística Este é um espetáculo autobiográfico [...] o Grupo Asavessa – sob a direção inaugural de Deborah Custódio – demonstra a facilidade com que este coletivo manipula os elementos da linguagem audiovisual, como é possível denotar ao acompanhar as redes sociais do grupo. Ao colocar em cena a discussão sobre o fazer teatral (e sobre o próprio grupo) com ironia e humor nonsense que remetem à clássicos como Monty Python e TV Pirata, mas atualizá-los com uma visualidade e uma edição vibrantes que remetem aos reels e tiktoks, o Asavessa parece ter encontrado neste trabalho uma voz própria que traduz sua jovialidade e seu espírito debochado, e que pode vir a nortear os trabalhos futuros deste coletivo.            

E por falar em trabalhos futuros, o que o teatro-de-daqui-a-pouco fará com toda essa experiência? O que nós, como sociedade, faremos com essa experiência de pandemia, com a necessidade de precisar seguir produzindo em meio a lutos não vividos? Será possível voltar ao mundo pré-2020? Será possível voltar ao teatro pré-2020? Será possível para o teatro ignorar as possibilidades de linguagem que foram experimentadas neste período, e antes disso, será possível ignorar o contexto de morte que nos levou a essas descobertas?  E, não havendo perspectivas de continuidade de políticas públicas para as artes, como ficarão os artistas nesse período de transição em que as linhas entre arriscar-se ou não ao contágio começam a ficar borradas?

Apesar de celebrar todas as iniciativas que a classe teatral potiguar realizou nesse período, é duro, mas necessário, relembrar que em meio a uma pandemia que não se sabe quando termina, não há de fato nada a ser comemorado. Mesmo que exista a esperança de um retorno à médio prazo “à normalidade”, me pergunto se já é possível saber quanto do teatro morreu nessa pandemia, e quanto dele sobreviverá a ela.

 

Foto da capa: Este é um espetáculo autobiográfico mesmo que não sejamos um grupo com tempo suficiente de ter um espetáculo autobiográfico – e, sim, este título está longo demais.

Foto: Dias Blue.

 

OBRAS DO TEATRO POTIGUAR REALIZADAS DURANTE A PANDEMIA

 

Trabalhos apresentados ao vivo

A casatória c’a defunta online, da Cia Pão Doce. Zoom. Independente.

A coisa do humano, da Cia Bagana de Teatro. Transmissão ao vivo pelo Youtube. Independente.

A frasqueira de Jacy, do Grupo Carmin. Transmissão ao vivo pelo Youtube. SESC SP (Em casa com Sesc).

A ida ao teatro “virtual”, do Facetas, Mutretas e Outras Histórias. Transmissão ao vivo pelo Youtube. Independente.

Acatacara: uma peça ao avesso, dos Clowns de Shakespeare. Telegram. Fomento à Cultura Potiguar 2019. (estreia prevista para final de Agosto/2021)

Cancelaram meu jantar, do Teatro das Cabras. Zoom. Independente. (estreia prevista para início de setembro/2021)

Carne do Mundo, dos Clowns de Shakespeare. Zoom. Independente (conclusão Laboratório da Cena).

CLÃ_DESTIN@: uma viagem cênico-cibernética, dos Clowns de Shakespeare. Multiplataforma. Independente.

Conto dos Contos, do Grupo Interferências. Instagram. Independente.

Disque Q para Queer, do Teatro da Margem. Zoom. Lei Aldir Blanc.

Entre Vias, da Ardume Produções. Zoom. Lei Aldir Blanc.

Experimento Decreta, do Facetas, Mutretas e Outras Histórias. Transmissão ao vivo pelo Youtube. Independente.

L.A.A.A.T.I.N.A.: Legião de Aventureiras, Aventureires, e Aventureiros Tenazes e Incansáveis pelas Narrativas ao Avesso, dos Clowns de Shakespeare. Zoom. Lei Aldir Blanc.

Live ou Roda de 3 amigos, do Facetas, Mutretas e Outras Histórias. Instagram. Edital Tô em Casa Tô na Rede (FJA) e Aldir Blanc.

Maurício (uma cena-experimento virtual), do Grupo Interferências. Instagram. Independente.

Percursus - Além dos passos de Vicente Celestino, da Cia A Máscara de Teatro. Transmissão ao vivo pelo Youtube. Lei Aldir Blanc.

Piruá de Circo, do Palhaço Piruá. Transmissão ao vivo pelo Youtube e Zoom. Independente.

Sal, menino mar, em casa, do Facetas, Mutretas e Outras Histórias. Transmissão ao vivo pelo Youtube. Independente. 

Sem título, dos Clowns de Shakespeare. Zoom. Itaú Cultural (Cena Agora).

 

Trabalhos pré-gravados

A casatória c’a defunta (versão em vídeo), da Cia Pão Doce. Youtube. Independente.

A invenção do Nordeste (versão em vídeo), do Grupo Carmin. Youtube. Fomento à Cultura Potiguar 2019.

A lenda do namorado, do Grupo Interferências. Youtube. Lei Aldir Blanc.

À luz do luar, da Cia Pão Doce. Youtube. Prêmio Funarte e Lei Aldir Blanc.

Canções daqui, contos do mundo, da Cia Pão Doce. Youtube. Prêmio Funarte.

Candeia, do Grupo Estação. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Coisas que guardei aqui dentro, da Sociedade T. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Constança, da Cia Pão Doce. Vídeo reproduzido no Zoom. Itaú Cultural (Cena Agora).

Des(a)fiadas, de Daliana Cavalcanti, Mainá Santana e Paula Queiroz. Vídeo reproduzido no Zoom. Lei Aldir Blanc.

Duas sombras diante do abismo, do Teatro das Cabras. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Elvis tiene la culpa, de Javier Diaz Dallanais. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Este é um espetáculo autobiográfico mesmo que não sejamos um grupo com tempo suficiente de ter um espetáculo autobiográfico – e, sim, este título está longo demais, do Grupo Asavessa. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Eu e a vizinha nº 2020, do Grupo Interferências. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Eu e a vizinha nº 2020: audiocena, do Grupo Interferências. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Gente de Classe: desfocados, do Grupo Carmin. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Gente de Classe: transparentes, do Grupo Carmin. Youtube. Itaú Cultural (Arte como Respiro).

Maurício: a audiocena da loucura, do Grupo Interferências. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Meu Seridó (versão em vídeo), da Casa de Zoé. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Mulher em (des)montagem, do Grupo Interferências. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Mulheres à vista, da Cia. Bagana de Teatro. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Mundarino, da Cia Pão Doce. Youtube. Lei Aldri Balnc e Lei de Fomento Maurício de Oliveira. (estreia prevista para setembro/2021)

No coração da lua, do Grupo Estação. Youtube. Edital de Fomento à Cultura Potiguar 2019, Sebrae RN.

Nós versus Eles, de Ana Clara Veras. Youtube. Lei Aldir Blanc.

O lendário coração da África (versão em vídeo), do Teart Produções. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Para onde voam os pássaros, da Sociedade T. Youtube. Sebrae RN.

Pingo d’água em terra seca, do Coletivo Artístico Eskambau. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Piruá extraterrestre, do Palhaço Piruá. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Sem título, da Casa de Zoé. Vídeo reproduzido no Zoom. Itaú Cultural (Cena Agora).

Sobre a morte e o morrer, da Cia Arte e Riso. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Todas as vezes que beberdes em memória de mim, de Quemuel Costa. Youtube. Lei Aldir Blanc.

Um balão branco, da Cia Cênica Ventura. Youtube. Lei Aldir Blanc.


[1] Esse mapeamento foi realizado tendo como base as divulgações que chegaram até mim ou que busquei nas redes sociais dos grupos e artistas da cena potiguares. Caso você saiba de alguma outra obra que não conste na lista, peço que entre em contato através dos comentários ou pelo nosso Instagram (@farofacritica), para que a mesma possa ser atualizada. No post de divulgação deste texto em nosso Instagram estão marcadas as redes sociais de todos artistas e grupos mencionados aqui, para que, havendo interesse, seja possível acompanhar os trabalhos desenvolvidos por eles. 

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