Por George Holanda
16/08/2017
O grupo Diocecena apresentou no Cineteatro de Parnamirim, pela 10ª edição do Encontro de Dança, diversas das suas coreografias em sequência: Seu Desprezo… Minha Loucura, O Grito do Silêncio, Abstrato e Seca D´Água.
Um obstáculo inicial merece ser destacado. Aparentemente, por uma possível demanda das circunstâncias da apresentação (as seguidas coreografias), os vários bailarinos que dançaram mais de uma creografia tiveram que praticamente repetir seus figurinos (com poucas alterações), isto explicaria estarem caracterizados da mesma forma em trabalhos com propostas tão diferentes. Por exemplo, os bailarinos que fizeram uma espécie de coro em Seu Desprezo… Minha Loucura, uma dança creditada no programa como um solo sobre uma mulher abandonada, encontram-se vestidos de forma bem próxima aos de Seca D´Água, que fala de sertanejos que lutam contra a seca. Este caso faz perceber também que algumas coreografias que foram pensadas com um determinado número de bailarinos, como no mencionado caso do solo Seu Desprezo… Minha Loucura, foram alteradas em função desta apresentação específica.
Dessa forma, tais ocorrências criam leituras discrepantes das originalmente pensadas pelos seus criadores, gerando uma dificuldade para a elaboração deste texto crítico, pois não se sabe o que é inerente ao trabalho e o que foi alterado para esta apresentação. Assim, por exemplo, como entender a presença das figuras em tons de terra num trabalho que prioriza o sofrimento solitário de um mulher no fim de um relacionamento?
De todo modo, a presente análise, se utilizando da reunião dos trabalhos, identifica alguns poucos pontos que inevitavelmente saltam aos olhos e que talvez, contraditoriamente, só pudessem ser identificados pela condensação das coreografias pela forma como se deu.
Assim, nota-se que os trabalhos se utilizam de trilhas musicais que acabam por traduzir o discurso construído pelos próprios corpos que dançam, cristalizando invitáveis leituras das coreografias e abdicando de uma postura mais ativo do público diante da obra e suas possibilidades. Como o uso da música Atrás da Porta de Chico Buarque para a coregorafia que trata de uma mulher abandonada ou a montagem sonora com gravações da época para informar que O Grito do Silêncio se ambienta durante o regime militar. Mesmo no caso da coreografia Abstrato, que não se prenderia a uma intepretação lógica ou a uma trilha sonora, acaba aprisionada ao próprio tema, limitando-se a uma referência ao modo de pintar de Klein e não buscando investigar a própria ideia da abstração.
Se por um lado tal opção acaba por fechar entendimentos sobre a obra, por outra demonstra uma fidelidade com o tema proposto, evidenciando uma exploração física de cada tema escolhido. Disso resulta alguns lugares-comuns, como nas várias quedas da mulher abandonada ou nos sertanejos que se regozijam com a chuva que cai, mas também se encontra o melhor momento do trabalho, que é a dança das vítimas do regime militar, em que se investiga caminhos corporais numa coreografia que os bailarinos estão amarrados e são tortuados.
Seu Desprezo… Minha Loucura
Direção Artística e Coreografia: Roberta Schumara
Bailarina: Renata Soraya
Iluminação: Alex Peteka
O Grito do Silêncio
Direção Artística e Coreografia: Roberta Schumara
Bailarinos: Flaviano Felix e Ranata Soraya
Iluminação: Alex Peteka
Abstrato
Direção Artística e Coreografia: Roberta Schumara
Bailarinos: Matheus Costa e Luiza Gurgel
Iluminação: Alex Peteka
Seca D´Água
Direção Artística e Coreografia: Roberta Schumara
Bailarinos: Ana Caroline, Ana Clara, Alex Santos, Bruno Alisson, Bruna Luana, Felipe Luiz, Flaviano Felix, Ranata Soraya, Paula Beatriz, Matheus Costa, Luiza Gurgel, Sara Maria, Renata Mariana, Larissa Daniele, Letícia Néo, Nathalia Augusta e Lucas Vitor
Iluminação: Alex Peteka