Por George Holanda
18/08/2017
Em Salão do Entre Nós Coletivo de Criação, dirigido por Diana Fontes e coreografado por Wilhelm Araújo, a dança de salão é o universo escolhido para se falar de sexo. O trabalho mostra o encontro de dois casais num baile e tem como inspiração o famoso filme de Ettore Scola (O Baile, 1983).
Na coreografia de Wilhelm Araújo o sexo está no centro da discussão (ou do salão). Desde o início, quando os casais ainda não se conhecem e estão sentados, antes de dançarem no baile, os movimentos já fazem alusão ao seu interesse no corpo do outro. As referências indicam órgãos sexuais e desejos.
O figurino remete a um passado elegante e indistinto. E sem romantizar este momento pretérito, o trabalho retira a camada de pudor civilizatório para desnudar as intenções, revelando que os encontros sociais nos salões de dança tem um viés de acasalamento.
O encontro dos casais já os leva a um contato intenso. E do bailar se parte ao ato em si, que acontece de forma sugerida mas enérgica. O jogar-se de uma cadeira sobre o parceiro, por exemplo, pelo risco e soltura da ação, sugere uma "pequena morte", como também é chamado o orgasmo. E tal ação (gozo) é repetida diversas vezes.
Desse primeiro encontro segue-se a trajetória de formação desses casais, o início de um relacionamento. Mas existem diferenças entre eles. Enquanto num pode-se identificar alguma falta de sintonia entre o homem e a mulher, no outro parece haver um maior encontro deles. Cada casal ocupa um lado do palco, reforçando as distinções entre ambos. Numa das relações parece que o homem tem maior voz ativa, no outro, a mulher. Os tempos dos casais também se diferenciam, tendo ações que acontecem em ambos, mas em momentos distintos, como a demarcação do espaço das companheiras pelo uso de uma areia esbranquiçada, demonstrando um sentimento de posse. Momentos entre amigos e amigas também são dançados, podendo estes serem entendidos também como um breve flerte entre pessoas do mesmo sexo.
O tempo é curiosamente marcado pela mudança de figurino e pela trilha sonora, numa cronologia sutilmente indicada. O percurso das relações termina num conflito final: o interesse mútuo entre um homem de um dos casais e uma mulher do outro (justamente os que parecem mais subjugados dentro das relações). Eles buscam o olhar e a proximidade do outro enquanto dançam com seus parceiros originais, num comportamento que não seria estranho de acontecer num salão de baile. O percurso de uma vida (sexual) numa noite de dança.
Fica técnica:
Direção Geral: Diana Fontes
Coreografia: Wilhelm Araújo
Intépretes: Ana Carolina Vieira, Meyrielle Gonçalves, Fracisco Júnior e João Alexandre.
Criação de Luz: Wilhelm Araújo e Ari Buccione
Execução de Luz: Rocha Iluminações
Sonorização: De Oliveira Produções Musicais
Figurinos: Ana Carolina Vieira e Coletivo
Fotografia: Brunno Martins