[O que move o teatro são os desejos...]

Por Heloísa Sousa
03/10/2017

Esta quinta edição do Festival “O Mundo Inteiro é um Palco” (RN) é marcada por mais uma parceria importante que entra na trajetória deste evento, que atualmente é um dos festivais de teatro resistentes em Natal. Um dos grandes parceiros desta edição é a Associação Brasileira de Artes Cênicas (ABRACE) que na ocasião de sua Reunião Científica na cidade, se une a programação do festival e promove encontros, diálogos e trocas entre artistas, docentes, discentes e pesquisadores de todo o país. Para marcar a abertura desta parceria, a Cia. Pão Doce de Mossoró (RN) apresenta o espetáculo de rua “A casatória c’a defunta” no Anfiteatro da UFRN.

Na narrativa construída neste espetáculo, nos deparamos com Afrânio, um jovem medroso obrigado a se casar com a jovem Maria Flor. Depois de um encontro, os dois acabam se apaixonando, mas esse momento é interrompido quando Afrânio acaba acidentalmente se casando com o fantasma da Moça de Branco que o leva em uma viagem ao submundo. Este espetáculo é a primeira experiência da Cia. Pão Doce com o teatro de rua, seu objetivo de contar uma história se apresenta como uma estratégia comum ao teatro de rua, de tornar o próprio teatro mais acessível à diversidade de públicos através de uma narrativa que não apresenta grandes contrastes; no entanto, a experiência estética que o grupo propõe se estende para além das interações entre as personagens e mostra uma concepção de encenação consistente e uma visualidade muito potente.

A direção, cenário e figurinos assinados por Marcos Leonardo recuperam possibilidades estéticas experimentadas no teatro grego clássico e outros momentos rituais das civilizações antigas quando faz a cena dialogar com música, poesia, narrativa e visualidade. Duas atrizes e três atores em cena, cantam, dançam e contam histórias em cima de banquinhos de madeira acoplados em seus sapatos citando os recursos usados por atores gregos, em um período onde alguns acessórios possuíam solas de madeira para garantir uma altura destacável.

As vestimentas ornam com o espaço cênico instaurado no meio urbano, através das materialidades, formas e cores. No início, os atores utilizam roupas de cores que transitam entre o branco, o marrom, o cinza e o ocre, em aparências envelhecidas que nos remetem às tradições teatrais comumente associadas ao teatro nordestino. Mas, durante o encontro com as criaturas do submundo, nos deparamos com outra paleta de cores mais variada e que pode lembrar inclusive as tradições mexicanas em torno do tema da “morte”.

As texturas e variedades de elementos utilizados em cena, aparentam simplicidade quando isolados, mas em conjunto trazem ao espectador uma riqueza de detalhes e estímulos visuais que contribuem com a recepção da obra. O espetáculo “A casatória c’a defunta” se destaca não somente por apresentar um teatro popular com narrativa simples e acessível, mas principalmente por também utilizar os demais recursos cênicos como as sonoridades, os aspectos visuais e a presença cênica dos atores para comunicar a obra; destacando a experiência do teatro como uma articulação entre os múltiplos corpos e suas expressividades; seja através da atuação ou da criação de adereços, por exemplo.

Esta apresentação me permitiu conhecer um pouco do trabalho da Cia. Pão Doce, que completando 15 anos de trajetória se torna um dos principais grupos de teatro do Rio Grande do Norte, atuando principalmente no interior do estado. Extrapolando a efemeridade das apresentações artísticas, vale a pena conhecer um pouco mais das obras e intervenções realizadas por este grupo seja pesquisando um pouco sobre seu repertório em plataforma virtual oficial ou em momentos de encontros presenciais como esses que os festivais proporcionam.

Direção, Cenografia e Figurino: Marcos Leonardo

Direção Musical e Texto: Romero Oliveira

Elenco: Mônica Danuta, Paulo Lima, Raull Araújo, Lígia Kiss e Romero Oliveira

Apoio Técnico: Bárbara Paiva

Máscaras: Cia. Pão Doce de Teatro

Maquiagem: Marcos Leonardo e Romero Oliveira

Design de Arte: Igor Castro

Produção: Cia. Pão Doce de Teatro

Clique aqui para enviar seu comentário