Editorial

Por Diogo Spinelli e Heloísa Sousa
06/02/2021

               A primeira edição da Revista Farofa Crítica é inaugurada com o Dossiê Cenas e Visualidades, publicando textos diversos entre entrevistas, relatos de processo, artigos e críticas que versam sobre a produção de artistas e/ou grupos que residem na Região Nordeste.  O lançamento dessa Revista só foi possível graças aos recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal; materializando o desejo e a urgência de publicar textos que dialogam, problematizam e afirmam a diversidade nas produções e pesquisas artísticas nordestinas, observadas por diferentes óticas estéticas, éticas e geográficas – produzindo formas de registros, contemplações e discussões sobre o que elaboramos nesse recorte espacial.

            Com o Dossiê Cenas e Visualidades abrimos caminhos para uma Revista que terá periodicidade semestral e que, mesmo afirmando as práticas circunscritas em uma região específica do Brasil, também colabora com a desarticulação de referenciais estereotipados e opressores que determinam nossas poéticas a partir de parâmetros estéticos que, por vezes, não condizem com as vivências e necessidades ressaltadas nessas terras. Essas cenas e visualidades são híbridas, performativas, políticas, poéticas, contemporâneas e, simultaneamente, dialogam e observam expressões da tradição que, ao invés de serem percebidas como estigmas, são vivenciadas como elaborações emergentes da cultura em corpos que vivem e criam a partir de seus próprios trajetos.

            Para abrir esta edição, trazemos uma entrevista realizada pelo ator e encenador Alex Cordeiro (RN) ao Gyl Giffony, integrante da Inquieta Cia. (CE), com o título Traços de um Nordeste Desobediente, e que reelabora noções sobre as práticas em artes cênicas e a ideia de grupalidade, sugerindo uma ótica crítica sobre os formatos de elaboração e criação em grupo, evidenciando a desobediência como estratégia poética, política e ética.

            Em seguida, temos outra entrevista feita pelo ator e diretor Marcelo de Sousa (PB) com o artista Geibson Nanes (PE/PB) sobre o Teatro Lambe-Lambe, trazendo imagens, reflexões e o percurso histórico de uma forma teatral contemporânea, com raízes nordestinas e que afirma uma possibilidade de democratização da experiência cênica e estética.

         Contemplando as criações nas Artes Visuais, o multiartista Matheus Fernandes (PB) traz um artigo sobre seu projeto multímidia Mexo, dialogando com as ideias de gambiarra e precariedade como dispositivos poéticos, na escrita de um texto que argumenta ideias e experimentações, onde o artista produz pensamentos coletivos e partilhados a partir do próprio fazer.

            Esta edição também conta com a publicação de três relatos de processo na criação de uma obra teatral, uma obra em performance e uma obra híbrida entre a cena e o audiovisual. A atriz Júlia Martins (MA) escreve sobre a criação de sua encenação a partir dos escritos de Maria Firmina dos Reis, enquanto que a escrevivente Naara Martins traz relatos sobre sua pesquisa prática em performance compartilhada no México; e por fim, as atrizes Diane Veloso (SE) e Giuliana Maria (SP) junto com a encenadora Flávia Teixeira (MA) falam sobre atuação e virtualidade na criação de Onde vc estava quando eu acordei? Um atentado virtual, elaborado através de plataformas de conferência em virtude da pandemia do coronavírus que marcou o ano de 2020 e que exigiu outras estratégias artísticas a partir da necessidade do isolamento social.

            Além desses textos, temos também a crítica escrita por Amilton de Azevedo, crítico do site Ruína Acesa, que, através de uma análise da trajetória do grupo de teatro pernambucano Magiluth, aponta como esses artistas se debruçam sobre a ludicidade e o convívio marcados em suas produções cênicas tanto em experiências físicas quanto virtuais.

            Para encerrar essa primeira edição, nós, Heloísa Sousa e Diogo Spinelli, editores dessa Revista, apresentamos quatro textos, em uma seção Especial, que resumem a pesquisa Panoramas da Cena Potiguar realizada através de debates com artistas e pesquisadores convidados e residentes no Rio Grande do Norte sobre dança, performance, teatro popular e teatro contemporâneo produzido no estado entre os anos de 2000 e 2020. Uma forma de registrar em diferentes mídias, diálogos tão fundamentais que recuperam aspectos históricos e políticos de nossas práticas artísticas.

            A Revista Farofa Crítica torna-se presente nesta primeira edição, vislumbrando as imensas possibilidades de discussões possíveis nas edições que virão em sequência. Esta publicação é também a materialização de um desejo antigo de seus editores em tornar esse espaço cada vez mais múltiplo de vozes e palavras que reconheçam as possibilidades e potencialidades de quem produz e pensa arte no Nordeste.

Acesse a primeira edição da Revista Farofa Crítica - Dossiê "Cenas e Visualidades" completo em PDF, abaixo.

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