Por Daniel Fernandes da Silva
13/07/2022
Resumo: A presente pesquisa, tem como foco, apresentar e falar da manifestação do Boi de Reis no Rio Grande do Norte, não só em caráter de apresentação do que é uma manifestação de Boi de Reis, mas, também mapear esses grupos e suas regiões, pontuando a sua importância cultural, criando um espaço onde seus protagonistas recebam espaço de fala e memória. Procurando unir em um só lugar, essas manifestações que encantaram e encantam os olhos de gerações.
Palavras-chaves: Boi de reis; Boi do Rio grande do Norte; Boi Calemba; Mapeamento.
Introdução
As manifestações populares do Nordeste Brasileiro são uma forma de teatro muito presente no dia a dia de quem habita essa região e no imaginário popular. Como é citado pelos mais velhos “em outro tempo, esse era nosso divertimento”, então muito do que já se foi vivido em um terreiro, onde era comum as apresentações, ficou fixado na cabeça de quem viveu esses momentos. Hoje em dia, muitas dessas brincadeiras, manifestações e costumes populares, acabam disputando espaço com avanços tecnológicos, caindo no campo do esquecimento ou no saudosismo nas memórias dos mais velhos. E nos mais novos, como é meu caso, que não tive tanto acesso a momentos tão fortes dessas manifestações, causam as seguintes inquietações: onde estão e quem foram as pessoas que encabeçavam essas brincadeiras? Chegando na universidade, na graduação em teatro, pouco se ouvia falar dessas manifestações como teatro e poucos se prestavam a falar e ouvir sobre, então nasceu a inquietação dentro de mim de dar os primeiros passos para essa catalogação, criar um espaço onde se consiga ter acesso e saber quais manifestações de Bois de Reis que estavam e estão em atividade no Rio Grande do Norte.
O Rio Grande do Norte fica localizado no Nordeste Brasileiro, região com um fluxo intenso cultural devido a multiculturalidade racial e étnica. Falando de um eixo cultural das manifestações populares, é possível traçar uma linha entre Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba, todas riquíssimas de manifestações de cunho popular e com as suas distintas particularidades, tendo muitos caminhos a serem percorridos, entendidos, vividos e pesquisados, como cavalo marinho, maracatu, coco de roda, teatro de João redondo, ciranda, coco de zambê, não ficando só nesses nomes citados aqui, mas tendo um leque cultural gigante. Ainda assim, muitos ainda falam que no Rio Grande do Norte, Nordeste, não tem cultura ou o que se vivenciar culturalmente. O Boi de Reis também conhecido no Brasil como Boi-Bumbá no Amazonas; Boi-de-Reis e Cavalo Marinho na Paraíba; Boi Surubi, no Ceará; Boi Calemba ou Boi de Reis no Rio Grande do Norte; Rancho-de-Boi na Bahia; Bumba-de-Reis no Espírito Santo; Boi Pintadinho no Rio de Janeiro; Boi-de-Mamão em Santa Catarina e Boizinho no Rio Grande do Sul, é a manifestação norteadora desta pesquisa.
Materiais e métodos (da pesquisa)
A referência conceitual deste trabalho se deu por dois caminhos de referencial: Deífilo Gurgel, falando em foco das manifestações culturais dentro do estado do Rio Grande do Norte, abrindo esse diálogo com a catalogação e mapeamento; e Mário de Andrade, com a sua visita ao nordeste durante 1923 e 1927, que resultou no livro “O turista aprendiz”, que trouxe visibilidade para algumas manifestações do estado e relata passagens, encontros, e formas de como o Boi de Reis do estado se estruturava.
Chegando na esfera pessoal, a metodologia que escolhi para pesquisar, foi a de participação com os grupos, saindo um pouco da leitura e indo habitar os espaços junto com esses coletivos. No ano de 2018, fiz parte do Boi Calemba Pintadinho, que foi onde aprendi muito sobre a estrutura do Boi de Reis e como a manifestação tem aberto caminhos durante seus 116 anos de existência. Estando dentro das manifestações populares não só como pesquisador, mas como participante, se abriram muitas portas pelo diálogo de igual para igual com os brincantes.
Foi a partir daí que nasceram mais perguntas de como se estruturam os Bois de Reis e onde estavam os mais antigos e quais estão em atividades. Foi assim que iniciei o mapeamento de uma forma bem pessoal e que resultou nesta pesquisa aqui apresentada.
Resultados e discussão
Mesmo após muitas mudanças culturais, a manifestação do Boi de Reis continua mostrando sua graça, atravessando gerações e encantando a quem tem contato com seus bailados e cores. O Boi de Reis no estado do Rio Grande do Norte é grande como diz o nome do seu estado, e forte como a tradição popular e cultural que carregamos em nossa história. Nesse sentido, esse mapeamento tem um importância quantitativa e continuará sendo construído, porque diariamente aparecem novas manifestações culturais e falta perna para percorrer o estado fazendo essa pesquisa, sem nenhum incentivo financeiro e apoio governamental. Continuamos nessa grande luta, mesmo às vezes padecendo no meio do caminho, em corredores dos hospitais públicos, mas não se apaga a chama que queima dentro de cada brincante popular e das pessoas que dão continuidade ao legado que deveria ser reconhecido com uma das principais ferramentas pedagógicas, sócio-históricas e culturais do estado do Rio Grande do Norte.
Vastos são os nomes daqueles que fazem e fizeram parte dessa nossa cultura do Boi de Reis, mas, aqui abro uma homenagem a tais Mestres e Mestras que partilham esse mesmo chão, mesmo terreiro, e que onde quer que estejam, vão sempre fazer parte ativa da nossa cultura popular e pedra forte na fundação dessa história que muitos querem apagar por não incentivar, ouvir, pensar, fazer parte. Aqui, pedimos licença a essas energias fortes que doam sua vida por essa cultura milenar e de muita felicidade.
Mestres a sua licença para brincar neste terreiro e a primeira louvação
é para dona da casa, eeeeeee,
é para dona da casa, eeeeeee,
é para dona da casa, eeeeeee,
faça, meu boi, eeeeee, faça meu boi.
“Se meu boi morrer, o que será de mim
Se meu boi morrer, o que será de mim,
manda Buscar outro, o sá dona,
Lá em Ceará-mirim.
Meu Boi, espaço moreno,
Onde fez sua morada,
eeeeeee, boi,
O duro, também se quebrar o janeiro,
O manso, também se amansa,
eeeeee, faça meu boi.’
Conclusões
Para concluir, apresento um resultado em aberto da minha pesquisa sobre os Boi de Reis no estado do Rio Grande do Norte, apresentando-a em andamento, porque sei que as manifestações são margem em nossa sociedade e não teremos acesso a toda sua magnitude em nossa vida, pela falta de incentivo e olhar para o que vem de dentro da nossa história. Falar no Boi de Reis, é falar de mim, dos meus mais novos e mais velhos, então, com grande amor e força, eu que um dia me tornei “Mateu de Boi de Reis” e hoje sou pesquisador da minha história que se atravessa pela manifestação do Boi, piso com calma nesse chão e peço força e ajuda para falar mais e mais dessas manifestações que falam sim, de mim, de você e de todos qual fazem parte do nosso mundo Nordeste Brasileiro.
Imagem 01 - Mapa do Rio Grande do Norte
Municípios do Rio Grande do Norte que têm manifestações do Boi
Autor: IBGE - 2010
33 Municípios (catalogados até 2022).
Boi de Reis no Rio Grande do Norte
Divido por Regiões
1 - Boi de Reis - Mestre Pedro Vaqueiro - Pureza.
2 - Boi de Reis do Seu Zé Mariano - São Miguel do Gostoso.
3 - Boi de Reis - Mestre Seu Chico Felipe - São Miguel do Gostoso
4 - Boi de Reis de Matas - Mestre Luiz Chico - Ceará-Mirim.
5 - Boi do Mestre Vitalino - Mestre Vitalino - Ceará-mirm.
5 - Boi Calemba Pintadinho - Mestre Dedé Veríssimo - São Gonçalo do Amarante.
6 - Boi de Reis de Tapará - Manoel Rosa - São Gonçalo do Amarante.
7 - Boi de Reis - Mestre Manoel Marinheiro - Mestra Dona Iza - Natal.
8 - Boi de Reis Estrela do Oriente - Mestre Pedrinho - Natal.
9 - Boi de Reis do Bom Pastor - Cassiano Pontes-Natal.
10 - Boi de Reis da Vila de Ponta Negra - Mestre Pedro Piloto - Natal.
11 - Boi de Reis De Manoel Curto - Mestre Manoel Curto - Natal.
12 - Boi de Reis Calemba - Mestre Elpídio - Parnamirim.
13 - Boi de Reis de Dona Cecília - Mestra Dona Cecília - Extremoz.
14 - Boi de Reis de Zé Barra - Mestre Francisco Manoel - Zé Barrá - Extremoz.
15 - Boi de Reis Espaço Suribum - Chico Gago - Macaíba.
16 - Boi de Reis - Mestre Jovelino - Macaíba.
17 - Boi de Reis Pintadinho de Cuité - Zé Candido - Pedro Velho.
18 - Boi de Reis - Manibu - São José de Mipibu.
19 - Boi de Reis Estrela Dalva - Mestre Marcinho - Manibu - São José do Mipibu.
20 - Boi do Engenho Ilha Bela da Boca - São José do Mipibu.
21 - Boi de Reis de Buracos - Mestre Gaspar - São José do Mipibu.
22 - Boi de Capela - São José do Mipibu.
23 - Boi do Diamante - São José do Mipibu.
24 - Boi de Reis de Vera Cruz - Mestre Joventino - Vera Cruz.
25 - Boi de Reis Elias Baraúnas - Mestre Elias Baraúnas - Lagoa Salgada.
26 - Boi de Reis de Santo Antônio - Mestre Jaime - Santo Antônio do Salto da Onça.
27 - Boi de Reis do Mestre Tião - Mestre Tião - Sítio Cajazeiras - Santo Antônio do Salto da onça.
28 - Boi de Reis Mestre Francisco Canindé - Nísia Floresta.
29 - Boi de Reis - Mestre Luiz - Brejinho.
30 - Boi de Reis - Mestre Geraldo - Brejinho.
31 - Boi de Reis - Mestre Jaime - Brejinho.
32 - Boi de Reis de Natal - Mestre Joaquim Basileu - Monte Alegre.
33 - Boi de Reis Cobrinha - Mestre Francisco Canindé “Cobrinha” - Boi do Mestre Gabriel - Tibau do sul.
34 - Boi de Reis - Zé Augusto - Sibaúma - Tibau do Sul.
35 - Boi de Reis Chuvisco - Mestre Severino Manoel da Cunha “Bia” - Monte Alegre.
36- Boi de Reis de Nova Cruz - Mestre Djalma - Nova Cruz.
37 - Boi de Reis - Mestre Zé Cão - Vila Flor.
38 - Boi de Reis - Mestre Dimas - Vila Flor.
39 - Boi de Reis de Chico da Sorda - Mestre Chico da Sorda - Lagoa de Velhos.
40 - Boi de Reis - Mestre Elias - Senador Elói de Souza.
41 - Boi de Reis - Mestre Peixal - Senador Elói de Souza.
42 - Boi Surubim de Barcelona - Barcelona.
43 - Boi de Reis de Tangola - Mestre Nelson José Vicente Firmino (Zé Boneco) - Currais Novos.
44 - Boi de Reis - Mestra Clinaria - Mossoró.
45 - Boi de Reis - Mestre Clóvis - Assu.
46 - Boi de Reis - Mestre Amor - Alto do Rodrigues.
47 - Boi Lavradinho - Mestre Augusto Elisário - Apodi.
48 - Boi de Reis De Cortejo - Mestre João Arthur - Patu.
49 - Boi de Reis - Damas e Reis de Baile - Mestre Geraldo Lourenço - Santa Cruz.
50 - Boi de Reis do Mestre Antônio da Ladeira - Mestre Antônio da Ladeira - Santa Cruz.
51 - Boi de Reis Mirim do Paraíso - Kenned Lucas - Santa Cruz.
52 - Boi de Reis - Mestre Antônio Duro (Mestre do Mestre Antônio da Ladeira) - Santa Cruz.
53 - Boi de Reis Sete Estrela - Mestre Alexandre - São José do Campestre.
54 - Boi Calemba - Mestre Cícero Batata - São José do Campestre.
55 - Boi de Reis de São José Bastião Cruz - Zé Vaqueiro - São José do Campestre.
56 - Boi de Reis de Mestre Zé Pretinho Abioador - Zé Pretinho Aboiador - Boa Saúde.
57 - Boi de Reis - Mestre Seu Francisquinho - Passa e fica.
Referências
ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Telê Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo ; Leandro Raniero Fernandes, colaborador. – Brasília, DF: Iphan, 2015.
______. Danças Dramáticas do Brasil - 1º tomo. Edição organizada por Oneyda Alvarenga, 2. ed. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. Brasília, ano 1982.
______. Danças Dramáticas do Brasil - 2º tomo. Edição organizada por Oneyda Alvarenga, 2. ed. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. Brasília, ano 1982.
______. Danças Dramáticas do Brasil - 3º tomo. Edição organizada por Oneyda Alvarenga, 2. ed. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. Brasília, ano 1982.
GURGEL, Deífilo. Espaço e tempo do folclore potiguar. Natal/RN. Offset. Ano 2006.
______. Introdução à cultura do Rio Grande do Norte. Grafset. Ano 2014.
Foto do banner: Rafael Santos