CRÍTICA EM EXERCÍCIO

Por Heloísa Sousa
07/10/2024

A prática da crítica veio se consolidando em meios artísticos, intelectuais e acadêmicos como uma atividade necessária e criativa que aponta, através da forma literária, outros modos de observação, percepção e análise da realidade. Explorando a forma textual em si e desafiando os modos científicos e convencionais de interação com o meio, a crítica de arte destaca sua relevância historiográfica e comunitária, em torno dos registros das produções artísticas e do estímulo ao debate sobre o pensamento em arte considerando espacialidades e temporalidades.

O Farofa Crítica surge em 2016, na cidade de Natal (RN), como uma iniciativa dos artistas e pesquisadores Diogo Spinelli, George Holanda, Heloísa Sousa, Paula Medeiros, Paul Moraes e Rafael Duarte que miravam justamente na lacuna existente na cidade em torno da prática da crítica, reconhecendo sua importância para a história de Natal e a necessidade do desenvolvimento de outras formas de diálogo. Desde então, o site tem se mantido sob a editoração de Diogo Spinelli e Heloísa Sousa, trazendo também diversos outros colaboradores para este meio. A Revista Farofa Crítica se apresenta apenas em 2021, graças aos recursos daquele ano pela Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte, financiada pela Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal. A Revista torna-se um meio de publicação de dossiês com textos sobre arte, para além da linguagem das artes da cena, mas ainda, destacando a territorialidade da Região Nordeste do país. Desde então, foram cinco edições sobre diversos assuntos em formatos de artigos, críticas, entrevistas e escritas livres. 

Nesta sexta edição publicamos seis textos críticos produzidos por alunos e alunas do curso “Crítica de Arte: Pensamentos e Modos de Observação” que foi ministrado por Heloísa Sousa, entre os dias 08 de junho e 31 de agosto de 2024, na capital potiguar. O curso surge como uma iniciativa derivada das experiências e práticas desenvolvidas ao longo desses anos no site do Farofa Crítica e almeja a expansão do interesse pela crítica e a multiplicação de corpos interessados por se engajar nesse fazer. Foram três meses de diálogos e observações intensas sobre a crítica do ponto de vista histórico e conceitual, buscando expandir as nossas percepções e entendimentos sobre essa atividade para além do campo opinativo ou individualista. A crítica como parte do debate público, como ação coletiva, como engajamento, como erotismo e como enfrentamento. 

Essa ação pedagógica marca o início de uma parceria entre o Farofa Crítica e a Solar - Escola de Arte, sendo esta última uma escola nômade criada por Heloísa Sousa com o intuito de compartilhar saberes e investigações em arte com a cidade de Natal. O curso de crítica de arte só se torna possível mediante contemplação no edital de Emergência Cultural N. 025/2023 - Lei Paulo Gustavo de Apoio às Áreas Culturais, com realização da Fundação Cultural Capitania das Artes, da Prefeitura Municipal do Natal e do Governo Federal, através da Lei Complementar 195, Lei Paulo Gustavo; comprovando a importância do incentivo público em atividades artísticas e outras áreas de articulação, pensamento e planejamento do setor cultural. Não podemos deixar de destacar também o apoio do Grupo Facetas, Mutretas e Outras Histórias, grupo potiguar que abriu sua sede no Tecesol para que as aulas fossem realizadas.

O final do curso foi marcado pelo desafio de escrever um texto crítico sobre uma obra de arte, preferencialmente produzida no estado do Rio Grande do Norte. Nessa edição, é possível ler os textos de Amanda Bixo, Eduardo Dias, Felipe Rocha, Geovana Grunauer, Lanuk Nagibson e Silvia Passos; três alunos e três alunas que se engajaram até a finalização do texto, trazendo seus olhares e articulando suas percepções através da escrita sobre obras potiguares como a peça teatral Jacy do Grupo Carmin, a obra em dança Graça: uma economia da encarnação da Cia. GiraDança, o filme Fendas com direção de Carlos Segundo, a exposição Atravessar Musgo de Diego Dionísio, além de três fotoperformances presentes na exposição Poética Protética de Carolina Teixeira. Para além dessas obras potiguares, temos ainda um texto crítico escrito sobre o livro As Nuvens do escritor argentino Juan José Saer.

Além dos autores e autoras do texto desta edição, também participaram integralmente do curso de crítica: Hanna Pereira, Igor Urbano, Jonathan de Assis, Juliana Valverde, Luana Galvão, Lucas Lopes, Manu Maia, Marcone Soares e Maria Sucar, cuja interação coletiva foi fundamental para a criação de cada aula como um momento de descoberta e aprofundamento.

O curso almejava, em seu projeto inicial, a criação de uma comunidade crítica, uma coletividade em território natalense de diálogo contínuo sobre o assunto, visando a democratização dessa prática e expansão para além da sala de aula. A publicação deste dossiê na Revista Farofa Crítica é um primeiro passo na continuidade desse projeto que imagina a expansão da prática da crítica em Natal, a partir desses exercícios.

Esperamos que nossos leitores e leitoras possam ler as primeiras palavras em crítica desses autores e autoras, para reencontrá-las em outros textos publicados futuramente, mantendo a atividade crítica em movimento e em nossa cidade.

Boa leitura!

 

Notas da Autora:

- O Farofa Crítica, atualmente, faz parte do Projeto Arquipélago de fomento à crítica, financiado pela Corpo Rastreado (SP) e do qual fazem parte outros sites como Ruína Acesa (SP, Horizontes da Cena (MG), Guia Off (SP), Cena Aberta (SP), Tudo menos uma Crítica (SP) e Satisfeita, Yolanda? (PE).

- Para acessar a versão completa da Revista Farofa Crítica, em pdf, basta clicar no link abaixo. Os textos também seguem divulgados em abas independentes neste site, neste link.


 

Clique aqui e faça o download
Clique aqui para enviar seu comentário